Exposição | Cleber Teixeira | Cavaleiro da tipografia

 

Cleber Teixeira | Cavaleiro da tipografia

Esta mostra virtual apresenta o encontro editorial do editor e tipógrafo Cleber Teixeira com o poeta e tradutor Augusto de Campos em nove livros impressos em tipografia pela Editora Noa Noa.

Começando pelo Mallarmargem (1970), e terminando, vinte e oito anos depois, pelo Mallarmargem 2 (1998). Edições da poesia traduzida do mesmo, mas sempre outro, poeta do livro por vir, Stéphane Mallarmé.

A história editorial da Editora Noa Noa é também a história do devir de Cleber Teixeira no aprendizado pela poesia, edição e tipografia:

eu segui a posição de editor, de pequeno editor, porque queria antes de tudo ser escritor. Foi um processo de educação do escritor. E isso implicou em um mergulho profundo que diz respeito à criação literária, à manufatura do livro. Associado a isso, a paixão pelas artes gráficas, pela tipografia, me levou a mergulhar nesse trabalho editorial. O processo que eu uso para fazer o livro é uma tentativa de preservação da tipografia.

E durante toda esta história, esteve instalada na porta de madeira pintada de verde na entrada da Editora Noa Noa, em Florianópolis, uma placa com a identificação do lugar “aqui se imprimem livros”. Placa retirada do capítulo LXII da segunda parte de Dom Quixote, quando o Cavaleiro da Triste Figura entra em uma oficina tipográfica para conhecer o processo de impressão, edição e tradução de livros.

Cleber Teixeira, que se intitulava um cavaleiro sem cavalo, encontrou no poeta concretista noigandres Augusto de Campos uma referência para o seu aprendizado pela poesia:

o meu projeto editorial coincidia com parte do projeto concretista, por isso, editei muita tradução feita pelo Augusto de Campos porque era de autores que eu queria conviver. O processo de composição manual me permitiu “conviver” intimamente com esses poetas que eu editei e escolhi. Considerava-os importantes para a minha formação. Na composição manual você tem uma relação “física” com o poeta que você está trabalhando. Ao construir o verso, letra por letra, palavra por palavra, eu me sentia convivendo com aqueles poetas. A presença deles me acompanhava dia e noite.

Um aprendizado físico, muscular e gestual da composição poética da palavra. No peso da palavra pelos tipos de caixa na medida do componedor. Compondo versos e estrofes na bolandeira de transporte para o mármore da imposição das páginas. Um aprendizado lento de editor e fazedor de livros impressos em tipografia:

o fato de compor à mão me integra ao ciclo iniciado com o manuscrito. Me dá uma sensação de uma presença física desses autores. É quase como se eu tivesse ali e estivesse penetrando de tal modo no poema e que o poema ao entrar ali estivesse sendo refeito nos tipos, na caixa. A lentidão do processo alimenta a convivência.

Nesta mostra virtual, podemos identificar o modelo tradicional da tipografia clássica na composição da capa, folha de rosto, página e colofão dos livros artesanais da Editora Noa Noa. Cleber Teixeira reconhecia nesta tradição uma qualidade da história do livro:

o que tem a ver comigo mesmo é esse desenho clássico do livro. Não é por acaso que eu preservo um desenho clássico, quer dizer, eu quero a minha folha de rosto, que para muita gente é convencional, aquilo que é fruto de uma busca, é aquilo que eu quero. Estou preservando, estou tentando resgatar uma tradição, estou indo atrás daqueles editores-impressores do século XVI, XVII.

Augusto de Campos identificava nos livros da Editora Noa Noa, pelo seu catálogo e na sua maneira de fazer livros, um projeto editorial de livros “inviáveis”. Dos livros sem lugar nas prateleiras do mercado editorial comercial. Mas, por outro lado, identificava um lugar muito especial, na história editorial brasileira, para o editor Cleber Teixeira como um poeta da edição “capaz de dar a um livro o mesmo tratamento que um poeta dá a um poema”.

Os nove livros de poesia foram editados em edição bilíngue, com tradução e introdução de Augusto de Campos, sendo a maioria em edição princeps no Brasil, da literatura poética mais inventiva em língua estrangeira.

Todos estes livros foram impressos em tipos de caixa, com rigorosa composição e revisão, pelo editor Cleber Teixeira, em tiragens de 125 a 800 exemplares.

Uma mostra de que o tipógrafo, impressor, cavaleiro sem cavalo Cleber Teixeira, editor da Editora Noa Noa, aprendeu muito bem o seu ofício com dedicação e paixão.

Flávio Vignoli

com depoimentos da entrevista de Cleber Teixeira para o Suplemento Literário de Minas Gerais | Belo Horizonte, setembro 1997, no 29, Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais.

 

INÍCIO

EDITORA NOA NOA

CLEBER E A MÁQUINA

TRADUÇÕES DE AUGUSTO DE CAMPOS | EDITORA NOA NOA

EDIÇÕES SELECIONADAS:

Mallarmargem

John Donne: o dom e a danação

Mais Provençais

John Keats | Ode a uma urna grega & Ode a um rouxinol

Mallarmargem 2

CRÉDITOS